Thursday, August 1, 2013

03_Casa

© Herberto Smith
casa_Resposta dada avancei para o meu verdadeiro objetivo. Na padaria se lá tivesse ficado, ouviria de certeza aquele diálogo feminino avançar na minha direção Que belo rapaz ele era, Se não fosse aquela história do irmão, Como é que ainda tem coragem para aqui voltar, Se calhar veio buscar pão, Achas que devíamos ligar ao Sr.Antero? Ó mulher também não é caso de polícia, ele é bom rapaz, sai à mãe, isso tenho a certeza. Não. Duvido que a Dona Virgínia ainda se lembre desses tempos, afinal já passaram pelo calendário pelo menos uns vinte anos depois da última vez que passei por lá para lhe pedir um de oferta. Duvido. Avancei entre carros cobertos do pó amarelo dos pinheiros que insistem em relembrar-me a dificuldade de comer pinhões nas pinhas de um pinhal. Apesar das memórias sei que nada me pode impedir de voltar ao sítio onde tudo aconteceu. Será que ele está à minha espera e de que maneira me irá reconhecer, Como aquele que partiu ou como aquele que voltou. Não sei. Entre um Ford Capri laranja e um Datsun 510 ferrugem lá está ele e no meio da rua. Não esperava vê-lo tão longe de casa, sempre o soube atreito a passeios matinais e apesar de ser quase hora de almoço ainda não tinha ouvido a sirene dos bombeiros. E ali estava ela, naquele preciso momento a sirene, os carros do antigamente e o Antero, quase que sincronizados centraram a atenção em mim. O Antero e dois vizinhos tentavam ligar o Datsun ao Capri que pegava agora roncando pela rua toda em sicronia tonal com a sirene dos bombeiros. Como um coro polifónico a atenção dos mecânicos passou diretamente para mim. Nesse momento o meu motor afogou-se e começei a chorar. Chorava agora como da última vez que tinha visto aquele quadro. Sem escovas que me limpassem o pára-brisas, oiço a voz grave e rádiofónica do Antero. Olha o Rei!

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